-
Arquitetos: Memola Estúdio, Vitor Penha
- Área: 820 m²
- Ano: 2019
-
Fotografias:Fran Parente
-
Fabricantes: Construverde, Deca, Labluz, Ladrilar, Metalferco, REKA
Descrição enviada pela equipe de projeto. Esta casa de campo foi desenhada para uma família com dois filhos e muitos amigos. Está localizada em um condomínio residencial privado e, embora ladeada por vizinhos, desfruta de um certo isolamento em relação a eles, de modo a valorizar-se com o projeto arquitetônico a interação dos espaços internos com os externos. A contemplação do nascer e do pôr do sol, bem como o favorecimento das vistas para a natureza circundante, são aspectos relevantes do projeto.
Da varanda vê-se o pôr do sol e consequentemente também da totalidade dos dormitórios, conectados a ela. Da piscina vê-se o horizonte e o pátio é banhado pelo sol da manhã. A partir da área social, então, a visão é panorâmica - voltada para a frente e os fundos da propriedade - e a farta luminosidade natural do ambiente testemunha a passagem do dia.
O conceito é o da criação de uma casa de fazenda, brasileira. Os seis dormitórios, no total, estão organizados em dois blocos independentes entre si, possuindo todos os quartos dimensões generosas. O coração do projeto é uma ampla área de estar que é, a um só tempo, espaço para relaxamento, refeições e jogos. Um lugar para várias formas de convívio.
A arquitetura está setorizada em três blocos principais: o central, onde está a área de estar, e as duas alas de dormitórios que partem de extremidades opostas da sala para, então, alongarem-se no terreno. Um pergolado com estrutura metálica, ripas de madeira e fechamento superior de vidro circunda a área social, criando-se uma varanda que contorna integralmente o coração do projeto, como em uma leitura das tradicionais casas de fazenda. Além de testemunhar as mudanças da luz natural ao longo do dia, a presença da pérgola gera espaços de transição que conectam a sala com os quartos: junto da área íntima, trata-se de um corredor contíguo à cozinha, enquanto que no acesso às dependências dos hóspedes, há uma breve galeria de passagem conformada por paredes e teto de vidro, também ela traspassada pela pérgola. O envidraçamento destas conexões faz parecer com que se caminhe ao ar livre, mesmo que se esteja dentro da casa.
Há a nítida distinção dos volumes do programa: a grande sala tem telhado com duas águas assimétricas - uma menos inclinada e mais longa, recobrindo parcialmente a outra, que é um teto de vidro - e pé-direito elevado, da ordem de sete metros, enquanto que os dormitórios, também eles protegidos por telhados de duas águas, têm pé-direito simples. Já os ambientes de serviço - casa dos caseiros, garagem e lavanderia - são cobertos com laje de concreto.
O volume mais alto, de estar, é feito com paredes duplas de tijolo maciço de demolição, enquanto que os volumes mais baixos, dos dormitórios, são revestidos com pedra. A distinção dos materiais se acomoda à paleta de referências campestres, complementada pelo uso da madeira nos pisos internos de tábua e em elementos das esquadrias, assim como pela tonalidade verde aplicada em componentes metálicos - como as bordas dos telhados, a viga cinta das paredes de tijolo e os contramarcos das janelas e portas, feitos com ferro. Também a diferenciação dos materiais enfatiza o partido arquitetônico da união de blocos programáticos, culminando nas empenas que, recobrindo o perfil dos telhados, destacam as texturas e tonalidades da pedra e do tijolo.
A colocação, a paginação e a seleção dos tijolos de demolição, reutilizados na obra com cores e tamanhos diversos, colabora com a aparência rústica da arquitetura. O mesmo vale para a pedra madeira que reveste as paredes, tendo-se privilegiado a escolha de peças com nuance amarelada, condizente com aquela predominante nos tijolos.
Nos interiores, o elevado pé-direito do estar é humanizado pelo teto de vidro que conforma a água mais curta, e mais inclinada, do telhado. Voltada para o sul, revestida com película anti-reflexiva e protegida contra a insolação direta pelo prolongamento da outra água da cobertura, ela funciona como uma claraboia que revela a transformação da luz ao longo do dia e permite ver o céu noturno.
As esquadrias foram desenhadas sob medida para o projeto. Janelas e portas estão posicionadas em pontos estratégicos tanto em termos dos fluxos dos usuários quanto dos enquadramentos da paisagem, priorizando-se a subdivisão dos vãos-luz (os contramarcos são metálicos) em requadros (os miolos das janelas são de madeira) de pequenas dimensões. Tem-se, assim, janelas com perfis delgados e versáteis, ora com pano fixo junto ao piso e parte superior com abertura do tipo camarão, ora com trechos basculantes, entre outros, sempre qualificadoras dos espaços sob sua influência.
De par com o desenho personalizado da marcenaria e de parte do mobiliário - como estantes e bancadas, estas feitas com concreto - e do garimpo de peças, uma das constantes dos projetos do Estúdio Penha, a as janelas e portas qualificam cada canto do projeto, criando uma visão harmônica, de conjunto, mesmo no convívio de móveis e atividades distintas entre si, como aquelas da grande área de estar.
Neste sentido, se destaca o rigoroso traçado das tubulações, todas aparentes, desenhado pela equipe de arquitetura. Ordena-se o que tende a parecer um caos e confere-se beleza a um tipo de elemento - tubos, perfilados e conduítes - originalmente de interesse secundário, embora a sua máxima importância para o funcionamento da casa. Na grande área de estar, a iluminação está posicionada a meia altura, com eletrocalhas sustentadas por extensores fixados na cobertura e spots ora direcionados para paredes, ora para pisos e ora para o telhado, de modo a valorizar a espacialidade do ambiente.